O nosso trabalho
No âmbito do projeto foram desenvolvidos quatro estudos que concorrem para proporcionar uma visão integrada da experiência de teletrabalho, combinando uma perspetiva temporal e de múltiplos stakeholders.
Abaixo pode aceder ao Policy Brief e ao Ebook editados no âmbito do projeto:
Revisão sistemática de literatura: Teletrabalho e desempenho na perspectiva das partes interessadas nos períodos anterior e durante/pós a COVID-19
Este estudo procurou compreender a evolução e o impacto do teletrabalho no desempenho organizacional e individual, mapeando estudos das bases de dados Web of Science (WoS) e SCOPUS. Foram analisados 90 estudos, cobrindo o período de 1989 a 2023, com foco na teoria dos stakeholders e os seus efeitos instrumentais.
A análise revelou um crescimento significativo das publicações sobre teletrabalho a partir de 1999, intensificado pela pandemia de COVID-19, que foi um catalisador para a adoção e estudo deste modelo de trabalho. Mais da metade dos artigos revistos abordam o impacto da COVID-19 no teletrabalho, destacando uma mudança considerável nas práticas e percepções sobre este tipo de trabalho. No período pré-pandémico, os estudos destacaram diversos fatores que influenciam o teletrabalho, desde organizacionais a tecnológicos. O período pandémico e pós-pandêmico, por sua vez, mostrou uma preocupação com o bem-estar dos teletrabalhadores, a interdependência das tarefas, e a adaptação a novas tecnologias.
Em conclusão, o teletrabalho mostrou-se uma modalidade viável e com potencial de crescimento, especialmente em tempos de crise. No entanto, a sua implementação eficaz depende de uma gestão cuidadosa dos stakeholders e de uma adaptação contínua às necessidades tecnológicas e organizacionais.
Trabalho Híbrido e Digitalização na Administração Pública Central Portuguesa: Explorando as Perspetivas dos Gestores
Este estudo explora o trabalho híbrido e a transformação digital na administração pública no governo central português. Foram entrevistados 21 gestores de topo da Administração Pública Central Portuguesa.
Através de análise temática reflexiva foram identificados seis factores-chave que contribuem para a transição bem-sucedida do trabalho tradicional presencial para um modelo híbrido. Estes factores incluem o fomento de uma comunicação eficaz, o cultivo de relações significativas, a promoção de uma motivação baseada na confiança, a garantia de uma autonomia contínua, a promoção de uma liderança de apoio e a fomentação de equilíbrio trabalho-vida.
Dinâmicas e práticas de Teletrabalho: A perspetiva dos Profissionais de Gestão de Recursos Humanos (GRH)
Para este estudo foram traçados os seguintes objetivos: (1) compreender que de forma está organizado o teletrabalho; (2) identificar as principais vantagens e desvantagens do teletrabalho; (3) conhecer as práticas de gestão de recursos humanos implementadas; e, (4) identificar o perfil ideal dos trabalhadores em teletrabalho na perspetiva dos profissionais de GRH entrevistados. A amostra incluiu 12 profissionais de GRH.
Os resultados mostraram que os modelos de trabalho variam entre presencial, remoto, híbrido e misto. A pandemia impulsionou a adoção do teletrabalho, que era inexistente na maioria das organizações antes dela. Entre as vantagens do teletrabalho destacam-se a maior produtividade, melhor conciliação trabalho-família, economia de tempo em deslocamentos, melhor uso do espaço e maior atratividade no recrutamento. As desvantagens incluem desligamento emocional, declínio da comunicação e união de equipas, perda de identidade, ocorrência de abusos, diminuição da produtividade, aumento de conflitos, perda de limites trabalho-família e penalizações na avaliação de desempenho. No âmbito das práticas de GRH, houve uma digitalização significativa dos processos de atração, recrutamento e seleção, além de um aumento na atratividade dos candidatos devido ao teletrabalho. No entanto, há uma preferência por onboarding presencial inicial. A formação é predominantemente online e a avaliação de desempenho também foi digitalizada, embora algumas avaliações ainda sejam presenciais. O perfil do teletrabalhador ideal inclui boa gestão do tempo, organização, responsabilidade, autodisciplina e capacidade de trabalhar em equipa ou independentemente.
A pandemia transformou o teletrabalho numa prática valorizada, exigindo adaptação contínua das estratégias organizacionais para maximizar os benefícios e assegurar o bem-estar e produtividade dos trabalhadores.
Teletrabalho em transformação: Experiências de trabalhadores portugueses nos períodos pré, durante e pós-pandemia
Neste estudo procura-se compreender de que forma a implementação do teletrabalho se alterou com e após a pandemia COVID-19, através de entrevistas semiestruturadas a nove trabalhadores portugueses com experiência de teletrabalho antes, durante e após o período da pandemia. As entrevistas permitiram compreender que o teletrabalho antes da pandemia era percecionado de forma menos stressante sendo sinónimo de qualidade de vida pelos teletrabalhadores.
Durante a pandemia o sentimento foi de sobrecarga de papéis, intensificado pela convivência com todo o agregado familiar. Após a pandemia, essa sobrecarga foi desagravada também pela retoma de algumas práticas de trabalho presenciais. Sobre a saúde, bem-estar e conciliação trabalho-vida privada, foi possível perceber que antes da pandemia não se sentiam particulares problemas nem as organizações dedicavam muita atenção às questões próprias do teletrabalho. Durante a pandemia o medo e o sentimento de insegurança, quer na saúde quer no emprego, surge evidenciado, notando-se o desagravamento dessas emoções com o fim da pandemia voltando o teletrabalho a ser associado a qualidade de vida, como no período anterior à pandemia.
Nota-se um processo de aprendizagem que decorreu da pandemia para o momento após pandemia no que respeita às práticas de comunicação interna e de colaboração no trabalho, bem como efeitos transformadores das culturas organizacionais que podem ser positivos para os indivíduos e para as organizações.